16 de jul. de 2014

escolha

Orphan Black does that to people.
(Minha sexualidade não é a coisa mais interessante sobre mim.)












Diz que "respeita minha escolha", mas me olha com nojo quando passo na rua. Manda-me esconder minha bandeira, soltar a mão da minha menina. "Respeita minha escolha", tá bom, mas ri em deboche, "cê não vai virar homem, né?". Fala mal de mim quando viro as costas, tenta me evangelizar, mas olha,"respeito sua escolha, não concordo, mas respeito", e no minuto seguinte diz que acha um tesão ver duas mulheres se pegando, desde que sejam gostosas, é claro. Sapatão que parece homem não pode. Mas, no final, que isso, me respeita, respeita minha escolha. Escolha. 
Como se fosse uma escolha. 
Eu não me lembro de ter escolhido ter olhos castanhos, nem pele branca, cabelo cacheado ou unhas fracas. Não escolhi ser sentimental, também, e nem escolhi minha personalidade empática. Não escolhi minha necessidade de escrever quase sempre. Também não escolhi o timbre da minha voz, o formato do meu rosto, a largura dos meus ombros, o tamanho dos meus pés. 
E, por mais que seja difícil de entender, eu não escolhi ser gay, porque eu não escolhi ser eu.
Simplesmente sou. Ponto.
Portanto não aponte esse dedo para mim. Não diga que é minha culpa. Não expresse falso respeito na minha frente enquanto oprime e deslegitima minha sexualidade e a das minhas irmãs. Não diga o que eu tenho que fazer a partir de agora, não ponha um freio no meu amor, não coordene minha aparência, não esbraveje sua verdade como se ela fosse única e absoluta. Você não sabe o que é viver com medo. Você não sabe o que é se ignorar, se odiar e não ser pleno. Você não tem direito de me dizer o que é certo e o que é errado e, muito menos, quem eu sou ou não.
De fato, fiz uma escolha; mas ela não foi entre meninos ou meninas. Não foi entre ser lésbica ou heterossexual. Foi entre viver presa no seu mundo claustrofóbico e ser feliz.