24 de fev. de 2015

o lago-você



eu vejo o lago.

antes mesmo de mergulhar ele me banha, a imensidão e a água fumê, a incerteza do quão fundo é o fundo da vida.

eu vejo o lago.

não tenho trajes de banho, guelras, escamas e nem coletes salva-vidas. estes pulmões que me movem estão cansados de processar o ar gelado do inverno, esses pés que caminham estão duros de frio e paralisados pelo medo.

eu vejo o lago.

vejo-o uma última vez antes de pular. sinto-o envolvendo meu corpo, de pés pernas joelhos coxas barriga peito pescoço cabeça, engolindo-me inteira, soterrando-me em fluído. viva, vivo, meus pés não encontram o chão, abro-me e ergo-me. quero que me tome, esse lago, que me seja, que me transforme, que me viva.

eu mergulho no lago.

eu não sei nadar.