eu vejo o lago.
antes mesmo de mergulhar ele me banha, a imensidão e a água fumê, a incerteza do quão fundo é o fundo da vida.
eu vejo o lago.
não tenho trajes de banho, guelras, escamas e nem coletes
salva-vidas. estes pulmões que me movem estão cansados de processar o ar gelado
do inverno, esses pés que caminham estão duros de frio e paralisados pelo medo.
eu vejo o lago.
vejo-o uma última vez antes de pular. sinto-o envolvendo meu
corpo, de pés pernas joelhos coxas barriga peito pescoço cabeça, engolindo-me
inteira, soterrando-me em fluído. viva, vivo, meus pés não encontram o chão,
abro-me e ergo-me. quero que me tome, esse lago, que me seja, que me
transforme, que me viva.
eu mergulho no lago.
eu não sei nadar.