26 de fev. de 2014

por que o amor tem que doer?

Encontrei no Facebook (página Tempo de Pipa). Tão linda que chorei.


O Facebook pode ser um poço de Coisas Ruins, com C's e R's maiúsculos, mas é justo dizer que existem páginas lindas que passam mensagens mais lindas ainda (nota! escrever sobre "feministas de facebook" algum dia!). Por isso, passeava pelo feedback quando encontrei essa mensagem:

Em uma sociedade que romantiza o sofrimento, é natural que as pessoas sejam maltratadas psicologicamente nas relações e ainda acreditem que estão vivendo intensamente seus sentimentos. Nessas condições, o cuidado consigo e com x outrx todos os dias é revolucionário.
- Cely Montseny 
É. 
Me lembrei instantaneamente da conversa que tive com uma das minhas colegas, pouquíssimos dias atrás. Ela, muito mais mulher e independente do que eu, tinha perdido o celular por causa de uma briga que teve com o namorado. A culpa era do ciúme, é claro, por parte dele. Perguntei se foi primeira vez que brigaram; não era. Houveram muitas outras. Não eram briguinhas, uma vez que ambos tinham gênio forte, e ela sofria muito por causa disso (como poderia não sofrer?). O garoto "não a valorizava", embora ela colocasse a culpa nas "outras". Perguntei, então:
— Por que você não larga, então? Sério, até eu posso ver que esse cara é só um encosto pra sua vida.
E ela:
— Porque quando a gente ama, é assim mesmo, a gente sofre.
— Mas não sofre por causa da outra pessoa! — eu estava impassível. — Tipo, o amor não tem que doer, sabe?
— Mas dói. 
Falem o que quiserem de mim, mas eu sou uma escolhedora de batalhas. E, mesmo tendo comprado aquela para mim, tentando mostrar em palavras que, meu Deus, ela merecia alguém melhor, não consegui absolutamente nada. Recebi um frustrante "é, tenho que terminar, mesmo", quando estava perfeitamente implícito que ela não o faria. E olhei ao meu redor, para os casos de amor que eu estava vivenciando, para todos os "briguei com x namoradx de novo", para as minhas colegas que postavam textos sobre ilusão no Tumblr, para os meus parentes que continuavam tomando as decisões erradas ao escolher seus parceiros. Olhei para mim mesma pouco tempo atrás, que escrevia e acreditava veementemente que o amor, o amor verdadeiro, carrega sofrimento como parte do pacote.
E isso simplesmente não é verdade!
Não é verdade quando você passa anos sendo traídx, mas perdoa mesmo assim. Não é verdade quando há indiferença, não é verdade quando não há sinceridade, não é verdade quando não há cumplicidade. Não é verdade quando as brigas são constantes. Não é verdade quando você não deixa seu marido pelo medo de ficar sozinha. Não é verdade quando ele fica violento e te dá um tapa "sem querer". Não é verdade quando há sofrimento, o sofrimento real, latejante e vivencial, o sofrimento que diferencia completamente do sofrimento dos mocinhos da novela e dos romances do Nicholas Sparks. Não vale a pena sofrer por amor, porque se há sofrimento, não há amor. Você só sofre pelo sofrimento.
Não acredite na ficção, na trama em que os mocinhos passam a vida inteira machucando uns aos outros para ficarem juntos no final. Não pense que o sofrimento do rapaz adolescente que perdeu sua namorada para o câncer é a coisa mais linda do mundo. Não imagine que aquele idiota máximo, quaterback e pegador do colégio, vai se tornar a pessoa mais doce da vida pela mocinha. Não acreditem porque isso não é amor. Isso é ficção. Isso é mídia. Isso é romantização
O amor não tem que doer.