Era quinta-feira, dia vinte de março de uma noite tipicamente brasiliense, quando a música falou comigo. Havia uma guitarra, um contrabaixo, uma bateria, um teclado e uma voz que se fazia forte e suave ao mesmo tempo. Era a coisa mais bonita da cidade se perder ali, com outras trezentas pessoas, cantando com elas, sentindo com elas.
Mas acabou comigo. Os olhos da dona da voz estavam marejados, como os meus, apesar do grande e bonito sorriso que ela mantinha no rosto - e de repente eu senti que a música estava falando comigo, me mandando embora, porque eu voava alto demais, porque eu nadava fundo demais. Me mandando não voltar para casa, não voltar, não olhar pra trás.
"Mas não se esqueça de mim, não."
Comecei a chorar porque ouvir doeu. Não parei de cantar. Acabou, acabou. Não volte pra casa, meu amor, que a casa é triste. Vá voar com o vento que só lá você existe. Não deixei que ele percebesse que eu chorava, os olhos fixos no palco. Não deixei que ele percebesse que a música falava comigo, mesmo que ela me dissesse que ele deveria saber.
Uma semana depois, ouvir a música que falou comigo ainda dói. Ela me mandou embora, e eu fui. Não porque quis, mas porque era a coisa certa a se fazer. Eu tinha as cifras, eu sabia tocar o dó com baixo em fá, o fá com baixo em fá sustenido, mas eu não sabia tocar sem sentir aquilo lá no fundo do meu coração piegas.
Num pequeno auditório de uma livraria, a música me disse que o meu dia tinha acabado. Ela estava certa, como quase sempre está, mas não me disse o que fazer quando a alvorada da manhã seguinte ardesse os meus olhos.
E é por isso que agora eu me sinto tão confusa.
Mas acabou comigo. Os olhos da dona da voz estavam marejados, como os meus, apesar do grande e bonito sorriso que ela mantinha no rosto - e de repente eu senti que a música estava falando comigo, me mandando embora, porque eu voava alto demais, porque eu nadava fundo demais. Me mandando não voltar para casa, não voltar, não olhar pra trás.
"Mas não se esqueça de mim, não."
Comecei a chorar porque ouvir doeu. Não parei de cantar. Acabou, acabou. Não volte pra casa, meu amor, que a casa é triste. Vá voar com o vento que só lá você existe. Não deixei que ele percebesse que eu chorava, os olhos fixos no palco. Não deixei que ele percebesse que a música falava comigo, mesmo que ela me dissesse que ele deveria saber.
Uma semana depois, ouvir a música que falou comigo ainda dói. Ela me mandou embora, e eu fui. Não porque quis, mas porque era a coisa certa a se fazer. Eu tinha as cifras, eu sabia tocar o dó com baixo em fá, o fá com baixo em fá sustenido, mas eu não sabia tocar sem sentir aquilo lá no fundo do meu coração piegas.
Num pequeno auditório de uma livraria, a música me disse que o meu dia tinha acabado. Ela estava certa, como quase sempre está, mas não me disse o que fazer quando a alvorada da manhã seguinte ardesse os meus olhos.
E é por isso que agora eu me sinto tão confusa.