26 de jul. de 2014

te falar, menina




vou te falar, menina
o tanto de coisa que cê perdeu

nem é do que eu podia de dar na cama
não tô dizendo sobre minha paixão carnal

nem, menina

tô falando do brilho que fincava meus olhos
do tremor da minha voz, sabe
ele ia ser seu

tô dizendo é do sorriso, esse seu, todo icônico
eu ia fazer ele ficar maior, sabe, menina
ah, mas cê nem sabe

cê nem sabe do que te escrevi
nem sabe, mas eu tava disposta a te amar sem vírgulas
tô dizendo sentimento, menina
esse mesmo que cê perdeu

te falar, olha, tô bem agora
e espero que você também
mas, menina, cê nem sabe
estaria muito melhor se não tivesse me perdido

16 de jul. de 2014

escolha

Orphan Black does that to people.
(Minha sexualidade não é a coisa mais interessante sobre mim.)












Diz que "respeita minha escolha", mas me olha com nojo quando passo na rua. Manda-me esconder minha bandeira, soltar a mão da minha menina. "Respeita minha escolha", tá bom, mas ri em deboche, "cê não vai virar homem, né?". Fala mal de mim quando viro as costas, tenta me evangelizar, mas olha,"respeito sua escolha, não concordo, mas respeito", e no minuto seguinte diz que acha um tesão ver duas mulheres se pegando, desde que sejam gostosas, é claro. Sapatão que parece homem não pode. Mas, no final, que isso, me respeita, respeita minha escolha. Escolha. 
Como se fosse uma escolha. 
Eu não me lembro de ter escolhido ter olhos castanhos, nem pele branca, cabelo cacheado ou unhas fracas. Não escolhi ser sentimental, também, e nem escolhi minha personalidade empática. Não escolhi minha necessidade de escrever quase sempre. Também não escolhi o timbre da minha voz, o formato do meu rosto, a largura dos meus ombros, o tamanho dos meus pés. 
E, por mais que seja difícil de entender, eu não escolhi ser gay, porque eu não escolhi ser eu.
Simplesmente sou. Ponto.
Portanto não aponte esse dedo para mim. Não diga que é minha culpa. Não expresse falso respeito na minha frente enquanto oprime e deslegitima minha sexualidade e a das minhas irmãs. Não diga o que eu tenho que fazer a partir de agora, não ponha um freio no meu amor, não coordene minha aparência, não esbraveje sua verdade como se ela fosse única e absoluta. Você não sabe o que é viver com medo. Você não sabe o que é se ignorar, se odiar e não ser pleno. Você não tem direito de me dizer o que é certo e o que é errado e, muito menos, quem eu sou ou não.
De fato, fiz uma escolha; mas ela não foi entre meninos ou meninas. Não foi entre ser lésbica ou heterossexual. Foi entre viver presa no seu mundo claustrofóbico e ser feliz.

4 de jul. de 2014

oitenta


||Fonte: We ♥ It ||










Tô pouco me lixando pra calmaria; eu quero é a tempestade. Eu quero os raios me cegando, quero os trovões estourando meus tímpanos, quero é que a chuva me molhe. Não quero ir devagar, não tô a fim de pegar leve com a gente. Não faz meu estilo. Para mim nem oito tem, é tudo oitenta. Eu quero subir a montanha mais alta, quero a bala mais ardida, o beijo mais apaixonado. Eu quero pegar a maior onda, quero cair no oceano e quero sentir o sal queimando os meus pulmões. Quero que você segure minha nuca com força, quero ver o fogo emergindo dos seus olhos castanhos. Não quero paz. Quero tormento, mesmo. Eu quero o amigo mais leal, ou o mais filho da puta. Quero a música mais alta. Quero que você me ame de uma vez pra eu te sentir, e me machuque de uma vez pra eu te escrever. Quero chorar, quero gargalhar, quero gritar as coisas mais inescrupulosas e sussurrar as mais levianas. Quero me jogar de cabeça. Me afogar. Sofrer. Voltar, sarar, e fazer tudo de novo. Eu quero passar toda uma noite acordada e dormir um dia inteiro. O número mais completo, o salto mais alto. Quero todo o amor e todo o sofrimento que você puder me dar, e não quero pra sempre. Quero que você vá embora, arrancando tudo e levando contigo. Não quero sensatez, não quero adultices, não quero que você me diga o que fazer. Eu quero me dar e me tomar de volta quando bem entender. Eu quero subir mais alto, pular de asa delta e sentir o vento machucar minhas bochechas. Quero essa fase, e a próxima, eu quero tudo, e quero que você me aceite querendo, porque não tô pronta para lentidão. Ou você me tem toda, ou não me tem nada.