11 de out. de 2014

acredite em mim quando digo que não te prometo nada

Acredito quando tu diz que gostava mesmo de mim, moça, embora a tua visão de mim fosse muito diferente da minha. Sabe, eu percebi que tu nunca me apresentou aos teus amigos, que tu sempre trancava aquela porta de correr no fundo da tua casa. Ai, moça, eu acredito nas tuas palavras de amor sussurradas após o êxtase, acredito nos torpedos que me acordavam no meio da madrugada. Eu via em suas pupilas dilatadas a paixão que tu nutria por mim, mas amor, não pense que não notei tua organização exacerbada de mundo. Geminiana, bem sei, gosta de ver as coisas separadas em pequenas caixas. 
Eu percebi que tu nunca me levava a lugares conhecidos, percebi que você não tinha intenção de me fazer conhecer teus irmãos. Percebi, amor, tua vida toda errada, teus relacionamentos falsos. Tu desassociava todas as partes da sua vida, sendo o único elo entre todas elas, e entre um sonho e outro, me dizia que já não via mais sentido em nada. Ai, moça, você foi boba em acreditar em mim como a coisa mais estável e prazerosa da tua vida. De tão imaculada minha imagem, separou-me do que havia de ruim em ti e nos que te cercavam; e de todos os outros, amor, esse foi seu maior erro. A gente poderia até se completar, mas, ao contrário do que você esperava de mim, eu não sou perfeita. Choro, chuto, fico puta, canso. Às vezes quebro corações.

10 de out. de 2014

misoginia nossa de cada dia


"Vem aqui, sua linda", ele disse, de olhos grudados em mim, folheto azul nas mãos. Veio pânico, insegurança, fraqueza, olhei pra frente e lá estava. Muito perto, muito perto, não queria que ele me tocasse. "Por que escondeu o celular?", ele riu, debochado, ridicularizando, inferiorizando, mas sem retirar os olhos do meu corpo bem coberto. Olhei pros lados, pensei em correr, tanta gente, tanta gente, o sorriso dele me invadia, não queria que ele tocasse, não não não. "Ahhhh, você é tão linda! Vamos votar 45, hein?!", ele repetiu, estendendo o folheto, eu queria que ele parasse de me olhar. Baixei os olhos, sim, baixei a cabeça, apertei o passo, segui em frente, meu coração martelando contra mim, meu medo, minha humilhação. "Ô, sua linda! Vem cá!", ouvi seus passos, engoli em seco, olhei ao redor, pensei em correr, tanta gente, tantos homens, tantos homens passando por mim, tão normal, tão normal. Ele me entregou o folheto azul. "Gostei tanto de você!", ele disse, ainda me seguindo. "Você é muito linda, menina! Nossa!", ele era grosso, ríspido, debochado, doloroso. Cortes opressivos disfarçados de cantadas inocentes. Na minha lembrança, ele não tem rosto, ele são todos eles. Ele, que me seguiu e cantou e invadiu sem que eu o deixasse. 

Ele não foi o único homem que se aproximou de mim naquela tarde.

8 de out. de 2014

quarto bagunçado


Fonte: We ♥ It.
p.s.: incrível como as bagunças de tumblr são arrumadas.

eu sei lá, sabe? parece que é tudo sempre uma bagunça por aqui. meus tênis sujos espalhados pela cerâmica, o violão encostado na parede. os livros fora da ordem, empilhados, sutiã preso na cabeceira da cama. e eu. eu, a maior bagunça daqui, jogada de qualquer jeito no colchão, a coxa enrolada num pedaço de lençol. os dedos longos demais presos no laptop, digitando, digitando sempre, coisas desordenadas da cabeça que clamam por liberdade. eu, de joelho ralado, de peito aberto, de cabelo descuidado, de palavras soltas. 
sei lá, sabe? eu nem sei mais o que a vida quer de mim. ela sempre foi me levando e eu, sempre errada, bagunçando tudo. não recolho a toalha molhada da cama e nem as antigas mágoas da alma. bagunço, troco as roupas dos bichos de pelúcia, empilho as roupas sujas, choro os amores, prendo as tristezas, sem deixar de soltar risadas ao relento. minha mãe até já desistiu de mandar eu me arrumar por aqui e por lá, meu pai diz que eu devia me envergonhar de mim mesma; talvez devesse, mesmo. vontade de me organizar eu até tenho, mas isso sempre pareceu ir contra a mim. e, sei lá, sabe? por mais que baderne, acho que não tô disposta a abrir mão do que me fundamenta.